Nossas conversas com Fernando Mazza nunca são apenas sobre madeira e cordas — são sobre todo o processo de criação de um instrumento para músicos exigentes.
Nesta terceira parte da nossa série, sentamos novamente para conversar sobre como o passado de Fernando como guitarrista moldou sua abordagem à luteria e como a relação entre músico e instrumento muda com a experiência.
Alba GB:
Fernando, hoje muitos te conhecem como um mestre luthier, mas você foi primeiro um guitarrista talentoso. Como ser guitarrista influenciou a forma como você constrói violões?
Fernando Mazza:
Influencia tudo. Depois de anos tocando, você se torna sensível não apenas ao som, mas a como o instrumento responde ao toque e ao fraseado.
Lembro como era tocar violões que não respondiam bem, e também a sensação de tocar instrumentos que pareciam uma extensão natural das mãos.
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Como luthier, sempre trabalho para construir violões que sejam responsivos, que deem controle e que sustentem a intenção musical do intérprete.
O objetivo é tornar o instrumento o mais transparente possível — permitindo que o músico se concentre na interpretação, e não em compensar limitações técnicas.
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Alba GB:
Você acompanhou o crescimento de muitos guitarristas. Como normalmente evolui a relação entre o músico e seu instrumento com o tempo e com a experiência auditiva?
Fernando Mazza:
No início, os músicos geralmente se concentram em volume e projeção — querem ser ouvidos. Isso é natural. Mas com o tempo, o ouvido fica mais refinado. Eles começam a perceber a consistência do timbre, o equilíbrio entre os registros e como o violão responde a pequenas variações de ataque.
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Também percebem que o violão mais eficaz nem sempre é o mais alto. Um instrumento bem equilibrado, com controle dinâmico, geralmente oferece melhores resultados musicais.
Alba GB:
Como você ajuda os músicos a encontrar os materiais certos ou o design de violão ideal à medida que desenvolvem mais sensibilidade musical?
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Fernando Mazza:
Tudo começa com uma conversa sobre a técnica e os objetivos musicais do músico. Se ele tem um toque leve e precisa de resposta rápida, recomendo o cedro, que tem um ataque mais imediato.
Se busca maior faixa dinâmica e pode lidar com um pouco mais de resistência, o abeto é uma boa escolha. Também levo em conta o repertório: certas peças pedem articulação clara — onde o abeto se destaca — outras pedem uma voz mais redonda e suave. Combinar o tampo e a estrutura interna com as necessidades do músico é essencial.
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Alba GB:
Você pode dar um exemplo em que orientou um músico para um tipo de violão ou material diferente do que ele achava que queria?
Fernando Mazza:
Claro. Recentemente, um músico me procurou querendo um violão bem potente para apresentações ao vivo. Ele estava focado apenas no volume. Mas depois de algumas conversas e testes, ficou claro que sua técnica favorecia fraseados sutis e variações dinâmicas refinadas.
Em vez de construir um violão rígido e resistente, sugeri um modelo com tampo duplo mais leve, que mantivesse a sensibilidade e o controle fino. O músico rapidamente percebeu que, mesmo sem aplicar muita força, o violão projetava muito bem e mantinha seu estilo natural. Trata-se de criar um instrumento que responde às reais qualidades do músico.
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Alba GB:
Ao falar dos materiais do tampo — como abeto, cedro, etc. — como você explica essas diferenças para quem está escolhendo seu primeiro violão profissional?
Fernando Mazza:
Explico com base no comportamento acústico da madeira. O abeto oferece mais clareza, separação e uma gama dinâmica maior. Ele tende a amadurecer ao longo dos anos, recompensando quem investe tempo com o instrumento.
O cedro responde mais rápido e se mostra mais direto ao toque. Ele revela seu caráter desde o início. Ambos são ótimos — tudo depende do que o músico espera do violão. A escolha deve refletir o toque e o estilo técnico de quem toca.
Alba GB:
Perfeito, muito claro. Antes de encerrarmos, qual conselho você daria a um jovem guitarrista prestes a comprar seu primeiro instrumento profissional?
Fernando Mazza:
Preste atenção em como o violão reage ao seu toque. Observe a facilidade de produzir um som limpo em várias dinâmicas, o equilíbrio entre os registros e o quanto o instrumento facilita o fraseado.
Um bom violão deve cooperar com o músico — deve permitir tocar naturalmente, sem forçar o timbre ou a articulação. O volume importa, mas a verdadeira qualidade está na resposta ao toque do músico.
Alba GB:
Obrigado, Fernando. Foi um privilégio explorar esses temas com você nessas três conversas.
Fernando Mazza:
Obrigado a vocês. Sempre um prazer ter conversas profundas sobre violões com pessoas que realmente valorizam esse ofício.
Alba GB:
Temos que repetir isso. Provavelmente no outono, quando começarmos nosso novo projeto em parceria. Ops — era segredo. Bem, agora não é mais, já que revelamos aqui. Sim, em breve vamos oferecer instrumentos selecionados de Fernando em nossa loja.
Estamos muito animados para iniciar este novo capítulo juntos. E não podemos deixar de dizer: Fernando Mazza utiliza estojos de carbono Alba GB em todos os seus violões clássicos.
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